As histórias de guerra do cirurgião-jornalista: um dos relatos do livro Médicos do Brasil, editado pelo INDSH

(3/7/2017) – O relato do médico e jornalista gaúcho Abraão Winogron, 70 anos, é um dos 51 que fazem parte do livro Médicos do Brasil, da historiadora Sônia Maria de Freitas e editado em 2016 pelo INDSH. Confira abaixo:

A história do Dr. Abraão Winogron é permeada pela superação de guerras que não eram suas, cujas marcas os fortaleceram como médico e ser humano.

Nascido em 1946, no então distrito de Vila Áurea, no Rio Grande do Sul, ele é filho de Rosa Wengrover e Jaime Winogron, judeus poloneses que vieram para o Brasil, em 1935, com uma Carta de Chamada enviada por um irmão de sua mãe, Israel Wengrover. Alguns anos depois, as atrocidades praticadas pelos nazistas contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) reduziram sua família aos três membros que residiam no sul brasileiro e a um tio que emigrara para o Canadá, o qual visitou com o seu pai, em 1967.

A Guerra dos Seis Dias

Apesar das dificuldades enfrentadas pela família no cotidiano do comércio rio-grandense, as suas quatro irmãs estudaram e casaram-se em sequência de idade, conforme as tradições judaicas. Ele queria ser médico, ingressando inicialmente na Universidade Católica de Pelotas, onde cursou o primeiro ano. Com incentivo de seu pai, prestou novamente o vestibular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), formando-se em 1970. Durante a graduação, Dr. Abraão interessou-se pela cadeira de Cirurgia devido ao potencial resolutivo da prática cirúrgica. michael kors apple watch band activity tracker Ainda no 5º ano do curso, foi aprovado em um concurso para Interno do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre, fazendo longos plantões e ampliando sua experiência. A convite, ele trabalhou também como médico no município de Viadutos, localizado próximo a sua cidade natal.

Pouco depois, casou-se com Ana Maria Otoni Mesquita e concluiu sua residência em Ortopedia, decidindo ir para Israel em 1972, três anos depois de visitar o país com um grupo de 23 universitários gaúchos de origem judia. Nos dois primeiros meses, estudou hebraico em conjunto com a esposa e buscou uma vaga no Hospital Hadássa, vinculado à Universidade Hebraica de Jerusalém. Enfrentou contratempos iniciais com o professor judeu-irlandês Meyr Meikin, então diretor de Ortopedia, tornando-se residente no Departamento de Cirurgia do hospital. No ano seguinte, durante o Yom Kippur (Dia do Perdão), tropas do Egito e da Síria cruzaram as linhas de cessar-fogo no Sinai e nas colinas Golã, regiões dominadas por Israel desde 1967 em decorrência da Guerra dos Seis Dias. O doutor relata:

“Eu estava no litoral e saí voando para o hospital. E começou o desfile de horrores: fraturas, esmagamento de membros, cortes imensos e profundos, uma gama de tragédias. A guerra é algo imenso, sempre assustadora, sempre cruel. Ela devora os soldados, geralmente rapazes fortes, cheios de vida, de esperanças”.

Correspondente de Jornais

O cirurgião afirma que a experiência no Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre o ajudou muito no decorrer dos 21 dias que enfrentou as consequências do conflito bélico. Nesse intervalo, nfl-jerseys-at-walmart-aliexpress deparou-se novamente com o chefe da Ortopedia, que reconheceu o preparo dele para o atendimento de emergência. Finda a guerra, ele retomou a residência médica no Departamento de Cirurgia, porém, foi convidado a ser residente na Ortopedia e aceitou. Cumpriu as exigências de lecionar Anatomia na Faculdade de Medicina, concluindo sua formação em 1977.

Nesse período, nasceu a sua filha Dana Winogron e ele precisava decidir se permaneceria no país diante das obrigações militares como cidadão israelense. Sua esposa era psicóloga e, na época, atendia em hospital psiquiátrico localizado em uma colina na entrada de Jerusalém. Ele conta que eram felizes lá, mas que a experiência da guerra o fez voltar, dizendo: “Um dia, a veia latina, o sangue gaúcho bate, e você se pega chorando. São emoções muito fortes, contidas por dias inteiros, semana após semana”. Dr. Abraão retornou com a família ao Brasil no mesmo ano da conclusão da residência e abriu um consultório de Ortopedia em Porto Alegre. Quando ainda estava em Israel, foi convidado a ser correspondente da porto-alegrense Rádio Guaíba, hoje pertencente ao grupo Record, e também a redigir matérias para o Jornal do Brasil, a Revista Manchete, o Correio do Povo e outros veículos de comunicação.

500 Mil Ouvintes na Rádio

Prezando compromisso tanto do médico e como o do jornalista com o dever de informar, ainda em 1977 colocou no ar o primeiro programa brasileiro sobre Medicina, o “Clínica Aberta”. O doutor, moncler jacket acorus então, desenvolveu a escrita dos idiomas que dominava (português, hebraico, espanhol, inglês, francês, italiano e árabe) e passou a interessar-se cada vez mais pela área, formando-se em jornalismo. Hoje, ele apresenta o programa “Minutos de Saúde” na Rádio Guaíba, prestando um importante serviço de utilidade pública ao divulgar fatos e sanar dúvidas sobre saúde.

Atualmente, ele também dirige o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, cujo nome homenageia aquele que é considerado o primeiro jornalista brasileiro. Graças a seu trabalho, a instituição foi reformada e o seu acervo higienizado e restaurado, estando em vias de ser digitalizado. A atuação de Dr. Abraão como comunicador lhe deu muita projeção, inclusive, na política; contudo, ele diz deixar essa área para uma pessoa mais apta, o seu filho, Alberto Kopittke Winogron. Para o doutor, a satisfação já ocorre semanalmente, quando cerca de 500 mil ouvintes, em seus programas na Rádio Guaíba (Porto Alegre, RS), aprendem e debatem sobre como levar uma vida mais saudável e feliz. “Fiz este juramento para mim mesmo em 1970 e continuo a cumpri-lo até hoje – outubro de 2016”, conclui o médico e jornalista.